Além das gerais é uma coletânea que reúne pesquisas e produções acadêmicas com uma nova visão sobre o período da história do Brasil conhecido como “a corrida do ouro”. A organização do livro é de responsabilidade do professor Fernando Lobo Lemes, do curso de História do câmpus de Ciências Sócio-Econômicas da Universidade Estadual de Goiás (UEG), em Anápolis.
A publicação retrata o século XVIII, período em que a colonização do Brasil pelos portugueses se expandia país adentro: as expedições em busca de metais, principalmente de ouro, cresciam em ritmo acelerado. Minas Gerais foi o principal cenário dessa exploração, seguido por Goiás, Mato Grosso e Bahia.
A intenção da coletânia é mostrar, por meio dos artigos selecionados, que a realidade do século XVIII no Brasil é diferente daquela predominante nos atuais livros de História. O professor Fernando Lemes defende a necessidade de entender que, em outros estados além de Minas Gerais, a produção de ouro também foi significativa.
“É notável que as pesquisas e as produções acadêmicas sobre esse tema estão avançadas apenas em Minas Gerais, enquanto nos outros três estados não existe a mesma amplitude de trabalhos”, explicou Fernando.
A coletânea apresenta, portanto, um contra-ponto a essa realidade, ao viabilizar a participação de historiadores dos quatro estados brasileiros, oferecendo uma diversidade de pesquisas e interpretações do período histórico.
Povos indígenas
Além das gerais é organizado, de acordo com a abordagem dos textos, em duas dimensões que, segundo explica professor Fernando, são complementares: a das instituições sociais existentes no Brasil colonial e dos povos que coexistiam neste espaço.
No prefácio do livro, intitulado “Ouro, verso e reverso”, a professora Laura de Mello e Souza, da Universidade de Sourbone Paris IV, explica que, na obra, são abordadas as peculiaridades encontradas pelos pesquisadores no convívio com os povos indígenas de Goiás durante do Brasil colonial.
Segundo a autora, os artigos analisam a existência de “grupos que combateram os colonos e outros que se alinharam a eles; se houve violência interétnica, índios matando escravos negros”.
Releitura de correntes históricas
O professor Fernando Lemes explica que existem duas correntes predominantes nas pesquisas históricas sobre o período colonial no Brasil.
São elas: uma historiografia tradicional, que acredita no apogeu e na decadência do Ciclo do Ouro; e a historiografia crítica, que questiona esse auge. A crítica parte do pressuposto que a existência do processo de decadência jamais existiu e, por isso, não é possível defender o auge da produção do mineral no país.
O capítulo do livro escrito por Fernando em Além das gerais propõe uma releitura da história produzida pelos historiadores em Goiás no século XVII. “Eu proponho uma releitura das abordagens existentes. Eu acredito que as duas correntes não conseguem sair da redoma da decadência [do Ciclo do Ouro], e é preciso fugir dessa perspectiva”, afirmou.
Outras publicações
Outro livro organizado pelo professor Fernando Lemes é intitulado “Territórios da História”. Na edição, que ainda não foi lançada, o antropólogo David Mead, da University of Florida, aborda a temática indígena.
A visão apresentada pelo antropólogo contrapõe a de que os indígenas brasileiros são vítimas da história de colonização do país. “Essa perspectiva é limitada, porque na história eles também tiveram o papel de algozes. Eles faziam dos conquistadores europeus vítimas. Mas sabemos que, com o passar do tempo, eles foram recuando, foram levados para o interior”, explicou Fernando.
As sociedades autóctones são aquelas que habitam um lugar e descendem de ancestrais que sempre viveram neste mesmo espaço. De acordo com o professor Fernando, tais povos, que no caso do Brasil são os indígenas, foram fundamentais na definição do ritmo de colonização.
“Eles influenciaram as ações e estratégias dos portugueses, tendo em vista o fato de que o processo de colonização é, também, de aprendizado e adaptação por parte dos colonizadores”, comentou o pesquisador.
(Bárbara Zaiden|CGCom|UEG)